Mais de 5 mil pessoas passaram pelas oficinas, masterclass, laboratórios de crítica e roteiro, mesas de debate e, claro, pelas salas de exibição das mostras competitivas e a infantil, todas essas atividades gratuitas e promovidas pelo 2º Festival de Cinema de Arapiraca, entre os dias 13 e 17 deste mês de setembro.

O encerramento ocorreu nesse domingo (17/09), no Cinesystem, situado no Arapiraca Shopping, com presença de um público cativo e emocionado pelo que estavam presenciando: o fincar de uma bandeira em frames corridos no coração do Agreste alagoano, com a máxima de que “Arapiraca faz cinema”.

No ensejo, foram exibidos três curtas-metragens: “Concatedral”, dentro do projeto Raízes de Arapiraca, do deputado Ricardo Nezinho e do diretor Aldo Silva, trazendo os esforços para a construção do principal símbolo da fé católica no município; “Nós Duas”, de Leandro Alves e Wéllima Kelly, contando a história de mãe e filha, residentes da Vila São Francisco, num encadeamento comovente de como o afeto liga tudo, a partir de relatos de dona Creuza Conceição e sua filha; e “Na Ponta do Palito”, da diretora Madlene Delfino, pontuando a história do artista-artesão Arlindo Monteiro, mestre do detalhe, que faz obras miniesculturadas em palitos de fósforo, vendendo-as há décadas no Mercado Público da capital.

“Eu nunca pisei em um shopping ou em um cinema. Para mim, está sendo algo muito importante. Ver minha imagem na tela, ver a saudade que tenho de minha mãe Olívia, de quem eu cuidava. É muito emocionante! Tudo era muito difícil antigamente. Meu pai não nos deixar ser nós mesmas. Mas assim como cuidei de minha mãe até sua passagem, eu também cuidaria dele. Agora estou é sendo cuidada. Por minha filha e por vocês. Obrigada por tudo”, diz a dona Creuza, profundamente emocionada com o “Nós Duas”.

PREMIAÇÕES

O Festival teve três mostras competitivas: NAVI, Nordeste e Brasil. O júri da Mostra NAVI (de Cinema de Formação) foi elencado pelos atores Daniel Torres e Erom Cordeiro. Já o Júri das mostras Nordeste e Brasil, pela atriz Cibele Maia, o roteirista e diretor de cinema, Émerson Maranhão, e a atriz Ana Luiza Rios.

Na categoria “NAVI”, a grande vencedora foi Lara Salsa, pernambucana que trouxe para a 2ª edição do Festival o seu curta-metragem de 8 minutos “Reflorescer”. É um filme de animação que conta a história de uma jovem mulher que coloca uma rosa perto de uma boneca de porcelana. A boneca, por sua vez, fica fascinada pela cor, presença e sutileza da flor, tentando de tudo para alcançá-la. Um curta que mostra que a primavera é inevitável.

E isso estava estampado no rosto da diretora, recém-formada em Cinema, agora dedicada à animação. “Reflorescer” levou os prêmios de “Melhor Roteiro”, “Melhor Direção” e “Melhor Filme”.

“Muita emoção! Era meu sonho entrar em animação! Fiz faculdade de Audiovisual em Recife e essa sempre foi minha paixão. Levar três troféus do Festival mostra que estou no caminho e que esses sejam os primeiros de muitos para ‘Reflorescer’. O filme foi um trabalho de conclusão do meu curso! Estou muito feliz e agradeço ao júri. Agradeço também pelo apoio que o Festival deu aos realizadores audiovisuais. Foi incrível! Arapiraca conquistou meu coração”, ressalta Lara Salsa.

Já na Mostra “Nordeste”, quem saiu com a mala cheia de prêmios foi “Cabocolino”, curta-documentário de 15 minutos, também de Pernambuco, que retrata a saga do mestre João de Cordeira, um brincante que luta para manter acesa a tradição do Bloco dos Cabocolinhos, do sítio Melancia, na cidade de João Alfredo, também no Agreste daquele estado.

Hoje com 81 anos, o filme foi rodado quando ele tinha 78, mostrando seu sonho de homenagear seu avô, no Juazeiro do Norte, no Ceará. Dirigido por João Marcelo Alves, o curta acompanha o mestre João em viagem até o solo de seu antepassado, tendo em mãos uma semente de árvore de Tambor.

“Estamos muito honrados de contar essa história neste evento, que está apenas em sua segunda edição, mas que parece que já tem mais de mil! Parabéns pela curadoria dos filmes escolhidos. Este é um Festival educativo, com obras maravilhosas. Vida longa ao Festival de Cinema de Arapiraca! Viva longa ao mestre João e à nossa cultura popular, seja ela de onde for. Esse é o nosso berço”, diz o diretor, acompanhado do mestre João, igualmente emocionado.

Na última da noite, a “Mostra Brasil”, quem levou “Melhor Filme” e “Melhor Direção” foi o curta Big Bang, filme do paulista radicado no Rio Grande do Norte, Carlos Segundo, que fala sobre nanismo, condição social e resistência, trazendo ao público a história de Chico, um homem de estatura baixa que conserta fogões.

No tocante a mais prêmios, três troféus Varal foram para “Última Vez que Ouvi Deus Chorar”, de Marco Antônio Pereira, de Minas Gerais, um curta que traz como protagonista da agricultora Maria, que misteriosamente fica grávida, em meio às suas divagações existenciais sobre a vida e o mundo.

Um outro prêmio foi concedido ao curta “Infantaria”, a partir da análise dos participantes do Laboratório de Crítica Cinematográfica, realizado durante o Festival, pelos alunos Letícia Melo, Jean Marcelo, Jonathas Alves, Stephanne Avila, Iagrid Maria, Tatiely de Holanda, Larissa Ferreira, Jai Karoline e Kátia Barros.

Segundo eles, “o filme escolhido é uma produção que merece reconhecimento e aplausos, não apenas por seu impacto social, mas também por sua qualidade artística. Com uma Direção de Arte que se destaca pelo trabalho da fotografia, da escolha da paleta de cores, dos objetos cênicos e pela sensível interpretação das personagens, ao assistir este curta-metragem, somos lembrados da importância do cinema como uma ferramenta poderosa para explorar e transmitir mensagens profundas, dando voz às mulheres no cinema e na sociedade como um todo”.

Todos, enfim, receberam o “Troféu Varal”, feito pelo escultor e artista plástico arapiraquense Albério Carvalho, que faz referência e reverência ao povo agrestino, buscando na cultura fumageira a inspiração e o símbolo desta honraria entregue a cada um(a) dos realizadores(as) laureados com os prêmios do júri.

O “Varal” recebe folhas em descanso, antes da preparação para a cura, com uma imagem em planta baixa de um pé de fumo posta do centro do varal, tendo um(a) agricultor(a) em cobre espelhado.

“O sentimento, ao final dessa jornada da 2ª edição, é de gratidão; é de dever cumprido. O Festival faz parte de um conjunto de ações do NAVI [Núcleo do Audiovisual de Arapiraca] para fortalecer essencialmente o cinema no interior de Alagoas, partindo daqui de Arapiraca. Ver essa sala de cinema cheia todos os dias, em pleno shopping, colocando nossas produções audiovisuais aqui dentro, é muito gratificante, de fato. As sessões todas foram emocionantes, sobretudo as que envolveram o público infantil — já que tivemos uma mostra específica para esse público da Rede Municipal de Ensino. Ao todo, 10 escolas passaram por aqui, com mais de 1 mil alunos e alunas, alguns deles nunca antes tendo pisado dentro de um cinema! Agradecemos aos nossos parceiros, apoiadores, patrocinadores e entusiastas! Sem vocês, o nosso cinema não seria visto”, pontua Wagno Godez, um dos fundadores do NAVI e um dos organizadores do Festival.

O evento foi uma realização do Núcleo do Audiovisual de Arapiraca (NAVI), por meio da Associação de Artistas de Massaranduba (AAMA), sendo produzido pela Arte Camaleão, em parceria com a Filmes de Bananola. O patrocínio é do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Alagoas (Sebrae/AL); do Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa; e da Prefeitura de Arapiraca, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Juventude, com financiamento da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura (MinC).

A 2ª edição do Festival de Cinema de Arapiraca contou com recursos do VI Edital de Incentivo à Produção Audiovisual de Alagoas – Prêmio Pedro da Rocha, havendo parceria com o Projeto Paradiso Multiplica e apoio cultural do Sesc Alagoas, Alagoas, Clube 42, Vila Vinil e Pub Treze.

CONFIRA OS PREMIADOS EM CADA MOSTRA COMPETITIVA

Mostra NAVI (Cinema de Formação)

Melhor Filme: “Reflorescer”;
Melhor Direção: Lara Salsa, por “Reflorescer”;
Melhor Roteiro: Reflorescer”;
Melhor Direção de Arte – Grito D’Água;
Melhor Interpretação: Layla Sah, por “15 Primaveras”;
Melhor Montagem: “15 Primaveras”;
Melhor Som: “Rosas Brancas”; e
Melhor Fotografia: “Grito D’Água”.

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Mostra Nordeste

Melhor Filme: “Cabocolino”;
Melhor Roteiro: “Diafragma”;
Melhor Direção de Arte: “Dorme Pretinho”;
Melhor Direção: João Marcelo Alves, por “Cabocolino”;
Melhor Interpretação: Elenco de “A Vigília”;
Melhor Montagem – “Caboclinho”;
Melhor Som: “Diafragma”; e
Melhor Fotografia: “Caboclino”

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Mostra Brasil

Melhor Filme: “Big Bang”;
Melhor Direção: Carlos Segundo, por “Big Bang”;
Melhor Interpretação: Cibele Zeôdi, em “Última Vez que Ouvi Deus Chorar”;
Melhor Fotografia: “Última Vez que Ouvi Deus Chorar”;
Melhor Som: “Última Vez que Ouvi Deus Chorar”;
Melhor Roteiro: “Infantaria”;
Melhor Direção de Arte: “Infantaria”;
Melhor Montagem: “Procreare”; e
Menção Honrosa: Giovanni Venturini, por “Big Bang”.

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Prêmio da Crítica (pelos alunos/as do Laboratório de Crítica Cinematográfica)

“Infantaria”.

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